Category Archives: acasos visuais

Casa do banho

Não é um apeadeiro para aflições. É antes o oásis das aves de capeira assadas no carvão.

Lisboa, Maio 2019.

Dois em um

Díptico publicitário que presenteia o consumidor com um pleno no que diz respeito à oferta alimentar. E como se isso não bastasse, são ainda oferecidas duas pérolas prontas a serem apanhadas e acomodadas no inventário onomástico dos estabelecimentos a Sul do rio Tejo.

Costa da Caparica, Agosto 2018.

Isto não é um Ecoponto

Há pessoas que confundem grelos de couve com grelos de nabo, espinafres com nabiças ou alhos com bugalhos. E, em situações mais graves, como estudou e relatou o neurologista Oliver Sacks, há quem “confunda a mulher com um chapéu”. Se nos primeiros exemplos as consequências não vão além do riso condescendente ou da picardia gastronómica, no último, a deficiência cerebral produz efeitos devastadores na vida do paciente e de quem o rodeia.

Na presente figura testemunhamos uma nova condição, julgamos nunca antes relatada, que ocorre em ambiente citadino, é preciso sublinhar. Consiste no avistamento não de um oásis para alívio da sede mas de uma área especificamente concebida para a deposição de lixo de diversas categorias, vulgarmente designada por Ecoponto.

Cumpre-nos apelar aos médicos investigadores que nos contactem para fornecermos mais pormenores e assim podermos contribuir para a produção científica que este achado irá certamente despoletar.

Lisboa, Novembro de 2017.

 

Noventa e nove anos de história

Em 1917 foram relatadas aparições marianas e em 2016 Portugal vence pela primeira vez o Campeonato Europeu de Futebol. Há quem narre esta história assim mesmo, sem preâmbulos nem epílogos contando tão só o princípio e o fim. O enredo fica pois entregue à criatividade dos comensais, que antes de entrarem para se empanzinarem em bifanas, vão certamente elaborar uma narrativa para noventa e nove anos de história.

Lisboa, 21 de Maio 2019.

Peixe é o meu nome do meio

O Mestre João da Costa que lidera esta equipa (curiosamente de onze elementos) “vende o seu peixe” fazendo-nos acreditar que estão “como peixe na água” na sua nobre profissão.

Num estilo eloquente de comunicação o Mestre “faz render o peixe” socorrendo-se de uma avalanche de imagens e slogans. Veja-se que por cinco vezes nos é apresentada a palavra “peixe” aludindo à técnica utilizada em alguns spots de televisão mais “hardselling” em que o nome do produto é repetido até à exaustão sem esquecer o “call to action” e o “packshot”.

Mas nada é deixado ao acaso na construção da mensagem deste Outdoor comandado pela simetria que cuida da correcta distribuição da palavra “peixe”: duas vezes peixe à esquerda, duas vezes peixe à direita, uma vez peixe ao centro.

João da Costa e seus pupilos são indubitavelmente “filhos de peixe que, por isso, sabem nadar”, belas criaturas marinhas que só exteriormente se parecem com humanos em que “peixe” é o seu nome do meio.

Costa da Caparica, Agosto 2018.

 

 

 

 

Teste de inteligência

O responsável de comunicação deste estabelecimento decidiu interpelar os transeuntes com um teste do tipo “qual a lógica que sustenta a coerência da seguinte lista de elementos”.

A criatura metódica julga ter assim encontrado um suporte científico para melhor seleccionar aqueles que merecem transpor a porta de entrada.

É portanto feita a triagem com este verdadeiro decantador de inteligência em que a força da gravidade chama os portadores dos cérebros mais densos para serem atendidos.

Quem sabe um dia este procedimento passe a ser tendência para situações de excesso de procura ou, se preferirem, escassez de oferta.

Imagem gentilmente cedida por Susana Macedo.
(Figueira da Foz, Agosto 2017).

Batente partilhado

Em muitos condomínios há verdadeiras escaramuças quanto ao modo de abrir e, sobretudo, fechar a porta de entrada do prédio, levando à redação de apelos, súplicas ou até de pequenos manuais de instruções. Mas noutros, onde a nostalgia impera, parece haver um acordo tácito que permite uma convivência civilizada que acarinha a utilização do quase extinto batente, mesmo custando um esforço adicional para triar o destino dos visitantes.

Lisboa, Agosto 2017.

Meiguice do crustáceo

Considerado um dos crustáceos mais refinados, a lagosta inspira os melhores chefs do mundo que desenvolveram um corpo de receitas infindável para a confeccionar. Cozida, grelhada, frita, em risotto, suada, com variantes e criações mais ou menos inusitadas, encanta os palatos mais exigentes.

Mas nem todos têm a possibilidade de privar com este animal transacionado a preços exorbitantes, só acessíveis a alguns eleitos de carteiras avantajadas. É vista como “requintada”, “subtil”, “sofisticada” ou “preciosa”. Consta até que o animal é invocado na poesia e na ficção numa amplitude que vai da descrição factual à metáfora sublime.

Curiosamente, a lagosta não figura no cardápio deste estabelecimento, apesar do seu protagonismo no toldo que a descreve como um ser vivo capaz de sentir meiguice, o que talvez explique a impossibilidade de ser apresentada no prato dos comensais…. “- Não ides tragar um bicho capaz de sentir afecto, pois não?”

Imagem gentilmente cedida por Susana Macedo.
(Vila Nova de Foz Côa, Abril 2019)